sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sagrada "Família"



Se há algo que caracteriza o nosso fim de século é justamente a ruptura da família. Agora é possível criar uma família com outros membros, com outras relações, com outras relações biológicas. E as famílias devem ser respeitadas, sejam elas como forem, porque o essencial é que os membros da família se amem.

Almodóvar diz isso no livro "Conversas com Almodóvar".Sim, ainda estou lendo esse livro. Sou um péssimo leitor! Dificílmente leio algo de uma vez só. Começo, paro, passo para outro e até para um terceiro e retorno ao inicial. Os livros ficam no banheiro ou no quarto. São meus locais prediletos de leitura e esse do Almodóvar é ótimo, pois são entrevistas. Então não tem problema de se perder o fio da meada.

Família sempre foi um assunto espinhoso pra mim. Perdi meus pais cedo e não tenho irmãos. É claro que tenho tios, tias e primos, mas minha real família são os amigos que fiz pela vida. Talvez por intuição, não sei, desde cedo prezei muito as minhas amizades e procurei cultivá-las com cuidado. E essa é a minha família! Embora eu não goste do Natal, desde que a minha mãe se foi nunca passei a data solitário. Sempre recebi mais de um convite para noite de natal por parte da minha"família" de amigos. Engraçado é que os parentes nunca me convidaram. Uma tia teve a cara de pau de dizer certa vez que não me convidava para cear com eles porque ela iria receber muita gente e estava muito cansada para cuidar de tudo. Perdeu uma grande oportunidade de ficar calada...
Outro dia fui fazer uma visita a uma prima que mora a dois quarteirões da minha casa, quando estava voltando me dei conta da proximidade e pensei:

- Meu Deus! Como moramos próximos e eu nunca lembrei de recorrer a ela quando não me senti bem e estava só em casa. De todas as vezes liguei para minha família de amigos. Que louco!

Enquanto montava aquela decoração de Natal que tive que fazer à trabalho pensava no simbólico daquilo tudo para mim. Saiu tudo como eu queria, a árvore estava linda, grande e exagerada, uma ceia deliciosa e caprichada, os presentes bem embrulhados em caixas decoradas com fitas douradas, mas tudo era de mentira. Ninguém recebeu aqueles presentes, ninguém comeu aquela comida, ninguém se encantou com o brilho da árvore. Ninguém me abraçou à meia noite e nem disse que a casa estava linda e a comida gostosa. A minha casa não tem decoração de Natal, não precisa. Eu já brinquei de Natal.

E ontem acordei cansado e esquisito. A claridade que entrava pela persiana virada para o lado contrário ao habitual, o barulho da obra no apartamento defronte e aquele moreno dormindo ao meu lado denunciavam que algo estava diferente. Tão estranho acordar com alguém ao meu lado... Já fazia um tempo que isso não acontecia. Ainda não sei se achei bom ou ruim... foi estranho.

P.S. :Esse post é dedicado ao querido Jôka!

sábado, 15 de novembro de 2008

Sou Uma Vaca Sem Badalo


Daquela noite, a imagem que não sai da minha cabeça é a dos nossos corpos nus, deitados no sofá branco, um de frente para o outro e conversávamos suavemente, ríamos, cansados e ainda excitados. Essa é a imagem mais doce de uma noite que começou num café próximo a minha casa, duas horas de conversa, um passeio no carro dele pela orla e o meu convite:

- Nós vamos ficar dando voltas pela cidade? ... Quer ir lá em casa?
- Podemos...

E fomos nos descobrindo por quase todos os comodos da casa... Aquele homem lindo, com um sorriso doce e infantil, um corpo perfeito. Um safado! Sim , pra variar um pouco, ele tem 27 anos e a cinco "namora" um cara. Uma relação segundo ele "aberta". Eu o conheci pela net. Ele me descobriu e começamos a conversar... Um papo bom, sem baixarias... Tudo que um carente como eu precisava. Como não estou podendo dispensar, peguei e dancei.
E agora não me sai da cabeça essa história de ser uma vaca sem badalo. Li isso no livro Conversas com Almodóvar, essa expressão está no filme A Flôr do Meu Segredo e ele usou com a personagem de Marisa Paredes. Na verdade a mãe do Almodóvar utilizava essa expressão para se referir a ele. Ser uma vaca sem badalo significa estar perdido, sem que ninguém lhe preste atenção. E é assim q me sinto agora, principalmente nesta época que se aproxima. Sempre amei e odiei o Natal. Gosto da festa, mas ela é seletiva. O Natal parece ser uma festa apenas para quem tem família e me deprime andar por ruas que gritam na minha cara:

- O Natal está chegando e não é pra vc!

Por ironia do destino, ou sacanagem mesmo, tenho que montar uma decoração de Natal por causa de trabalho e sabe que isso me dá prazer? Curto criar uma decoração, comprar as coisas, mas me entristece saber que no real aquilo não é pra mim.

E aí entendo por que não me sai da cabeça a imagem daquele homem lindo, jovem, doce e másculo deitado no sofá. Essas coisas ainda me surpreendem!Um cara que eu conhecia virtualmente, torna-se real e em algumas horas me faço nu a sua frente. Completamente nu.

Quase uma da manhã e nós dois abraçados ao lado da porta, eu digo:

- Eu literalmente me aproveitei de vc!

Ele ri

- Sabe de uma coisa?
- O que?
- Eu não gostei de vc.
- Por que?

Ele ri. Eu respondo:

- Porque eu gostei de vc!

Nos beijamos uma última vez e ele se vai. Fecho a porta atrás dele e no rádio The killers canta:

Are we human?
Or are we dancers?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answers




domingo, 2 de novembro de 2008

Outro Tempo Começou

Nas últimas semanas o falecido voltou a manter contato via sms:
- me preocupo com vc... espero que esteja bem, sou seu amigo eternamente...

E eu respondi:

- vc será meu amor eternamente.

Tá, eu sei que sou louco e inconsequente! E ele responde:

- que pena que só damos valor ao que perdemos... podíamos ter sido tão felizes...

Será?Hoje acho que eu poderia ter nos dado uma outra chance, mas não dei e perdi o bonde. Em meio a isso conheci um ator e o mais louco é que esse cara vinha a ser ex de um diretor que por sua vez era um affair do falecido. Deu pra entender? O rio realmente é uma ervilha. O cara era maneiro e eu realmente tentei investir, muito embora não estivesse animado. Só que agora o ator saiu de cena e na última semana eu tive outra recaída: Pedi penico pro falecido. Que ódio de mim!O puto diz que me ama, mas que o nosso tempo acabou.

- Vai pro inferno!

E quer saber? Ele tá certo!Eu é que fui idiota! Enquanto ele quis, ficou no meu pé sem dar uma trégua, em nenhum momento me deixou esquecer dele, se mantendo sempre presente e eu não me deixando envolver por ninguém. Agora que ele se arrumou, pula fora e diz pra eu não insistir.
Ok!Eu sei que é carência, insegurança, medo de ficar só, de não encontrar nunca mais alguém que me ame...
Vou sobreviver e de mim ele não ouve falar tão cedo!Mas a vida dá voltas. Eu sei. Essa história não termina aqui.

Agora me diz:
- Como viver bem sozinho? Na teoria eu sei, tenho várias receitas. Quero dicas de como colocar a teoria em prática. Please, someone help me!
Promessa:
Aqui não se fala mais de pessoas falecidas. Nada melhor do que enterrar alguém no dia dos mortos.


sábado, 11 de outubro de 2008

Time After Time

What good are words I say to you?
They can't convey to you what's in my heart
If you could hear instead
The thingsI've left unsaid

Time after time
I tell myself that I'm
So lucky to be loving you

So lucky to be
The one you run to see
In the evening, when the day is through
I only know what I know
The passing years will show
You've kept my love so young, so new

And time after time
You'll hear me say that I'm
So lucky to be loving you

I only know what I know
The passing years will show
You've kept my love so young, so new

And time after time
You'll hear me say that I'm
So lucky to be loving you
Lucky to be loving you


Essa música está no filme"Ao entardecer" numa sequência linda de um casamento. O filme fala de uma mulher velha, a beira da morte , que entre alucinações e recordações repassa sua vida, suas escolhas e o amor. E eu me sinto um velho. Acho que sempre fui. Aos 10 anos já era velho. E penso nessa letra como um velho à morte, mais uma entre tantas que já vivi. A incerteza de um amor, de um porto seguro, de uma mão para me amparar...
Será que se tem a sorte de encontrar esse amor mais de uma vez?
Tem um ano que vago em dúvidas por noites em claro, boates cheias, pessoas vazias, beijos quentes, camas frias, telefones anotados em papéis, promessas de uma ligação, celulares desligados(o meu inclusive) e pra quê?
Queria tanto saber viver sozinho, ser bastante pra mim e estar aberto para a presença do outro, mas não prescindir do outro...
Não sei!
Preciso do outro. Do calor do corpo e das palavras.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

The Living End


Consegui convencer um amigo de assistir esse filme comigo na sexta no Palácio. Sabia que não era muito a praia dele, mas o seduzi com a idéia de que era um filme gay e o cinema estaria cheio de bibas por conta da mostra "mundo gay". O que não se faz pra ter uma cia!
Gosto muito do diretor e não conhecia o filme. Adorei! A história se passa em 1992 e fala do romance de dois caras soropositivos. O grande barato é que esse filme é pré-coquetel e a AIDS ainda era vista como uma sentença de morte. Sem na falar na estética fim de oitenta-início de noventa! Em 92 eu tinha 20 anos e é tão louco olhar agora para aquilo! Como uma década da qual me lembro com clareza se tornou distante estéticamente!
Bem, a mostra "mundo gay" segue no Palácio e em outros cinemas do Rio, vale conferir!E vale especialmente ir ao Palácio antes que ele feche!
Tem também a mostra do Derek Jarman rolando com filmes imperdíveis, quero ver uns cinco!
Quanto ao sms de que falei no último post, sim, era dele.
Na sexta-feira de tarde tomei coragem e liguei.O mais louco é que eu queria muito que fosse realmente ele. Me fazia feliz a idéia de pensar que ele se preocupava comigo e ao mesmo tempo eu temia que não fosse ele e a frustração que poderia nascer dessa descoberta.
Ele atendeu.
Eu disse:
- oi, sou eu...
- oi( um oi surpreso e alegre)...
- então foi vc... que número é esse?
- é meu número novo... como vc está?
- estou índio... com saudades de vc, seu nojento...
- eu também sinto saudades...
- eu não entendi essa mensagem... da última vez vc arrasou comigo...
- eu tava muito nervoso, confuso... me desculpa se te magoei...
- talvez um dia eu desculpe vc... mas, agora não dá...
Daí em diante foi lavação de roupa suja com classe... Ele disse que está namorando e que a vida dele está caminhando bem, sucesso no trabalho e que eu não acreditava nele e pra me machucar mais disse que estava curado. Só não dava pra gente ser amigo agora porque eu ainda desestabilizava a vida dele...
- mas se vc precisar de algo pode me ligar.
- eu não vou ligar, eu dou meu jeito... Mas vc pode me procurar quando quiser, pro que for, eu sempre estarei aqui, pois como eu disse eu sempre serei seu amigo...
- vc sempre distorce as coisas...
Acabamos por nos despedir.
E eu destruído... Será que eu ainda amo esse cara ou é só carência e orgulho ferido?

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Mama Mia


Pra não passar o domingo em cinza, consegui a cia de um amigo e fomos assistir Mama Mia. O filme é bem divertido, cafonérrimo nas músicas deliciosas do ABBA e lindo nas paisagens da Grécia. Meryl Streep está ótima, divertidíssima!Pelo menos fui dormir mais leve.Lembro de quando vi o musical em NY e aqueles americanos travados só balançavam a cabeçinha nos números mais frenéticos e aqui no cinema o povo gritava, batia palma, ria! Só faltou a galera levantar e começar a dançar.


Ontem recebi o seguinte sms:


Desejo que esteja bem.Me preocupo com vc.Beijos,te cuida.


Não veio assinado e eu não conheço o número. Já repassei minha agenda e não descubro de quem é.Ainda não tive coragem de ligar pra saber quem é. Pensei em algumas pessoas possíveis de me mandar este texto. Inclusive o falecido. Mas, não sei. Ele me tratou tão mal da última vez que nos falamos... O que sei é que esse sms mexeu comigo.Sou mesmo um louco, mas gostaria que fosse dele... Gostaria de saber que ele se preocupa comigo... Nessas horas acho que eu não tenho mais jeito mesmo...

E se o sms tiver entrado na minha caixa por engano?

domingo, 21 de setembro de 2008

É Grave "Doutor"?




Já era noite de uma quinta-feira morna e sem trabalho, ele me liga:

- Oi, vc me ligou...
- Liguei... Quer passar aqui...
- Que convite tentador... Mas, não sei... Estou todo suado da
academia... Tenho que lavar roupa... Estou sem nada mais para
usar...
- Vc que sabe... Estarei em casa...

Como diz um amigo meu, esses garotos de vinte e poucos não sabem "se dão ou se chupam" e eu não tenho muita paciência.
Ele veio. O doutor. Sim, é um médico de 25 anos que conheci numa festinha semana passada.
Uma graça e valeu ele ter vindo pois serviu como uma vitamina para o meu ego esgarçado.
Antes dele chegar estava eu no telefone com uma amiga que me dava notícias do falecido.
Dizia ela que a figura que ele está namorando é bonita e que ele disse que encontrou a sua alma gêmea... E que agora parece que a vida dele vai dar certo... Tudo está ótimo... Será que era eu que dava azar para ele? Ou eu sou o azarado? Ou ele só quer me magoar? Desliguei, e eu já estava do avesso com esse papo.
O difícil pra mim é que eu o amo. Não mais como homem, mas como um grande amigo e companheiro... Por vezes, do alto da minha solidão pensei em tentar mais uma vez...

- Sexo é tão importante assim?
Tô eu aqui sem sexo e sem ele, sem sua presença, sem carinho , sem a certeza de um amor verdadeiro...
Mas, não consegui voltar, tentar... Então, paga-se o preço de um domingo chuvoso solitário.
Logo depois que terminei nosso relacionamento um amigo me disse:

- Vou resumir o que acontece agora: Vc vai encontrar vários sapos disfarçados de príncipes, no fundo ninguém quer nada...

Não sei se ele está sendo fatalista, o que sei é não tenho tido saco de me colocar na pista. Ás vezes saio e coisa e tal, mas me sinto velhinho pra ficar virando noite e errando de história em história...
Quando terminei, pensava que era o momento de eu aprender a viver sozinho. Desde a morte da minha mãe eu vinha passando de uma relação para outra. É... Tem sido um duro aprendizado e eu por vezes tentei fugir disso me reaproximando dele... Agora ele não quer mais falar comigo e sabe que de certa forma isso tem me ajudado? Saber que não posso mais contar com ele tem me obrigado a ser forte... Até quando?






domingo, 14 de setembro de 2008

Voltei!

Pra quem não sabe, "Cartas Ao Leo" era um blog escrito por mim e que acabou junto com o fim do weblogger. Coisas do destino...
Um pouco antes do término do weblogger, o meu ex descobriu o blog e nossa vida virou do avesso... Eu quase não escrevia mais e achei providencial aquele fim abrupto.
E como tudo tem um fim, esse quase casamento, depois de dois anos e meio acabou.
E agora estou eu aqui de novo, tentando recomeçar... Tudo.
E por que não o blog também? Ele que foi meu companheiro de tantas horas...
É isso aí! Voltei! Não esperem nada de novo. Esse espaço continuará sendo o mesmo "meu querido diário" de antes.