segunda-feira, 2 de março de 2009

O Baile da Ilha Fiscal


Eu tinha pressa e o trânsito estagnado ás 7:00 da manhã só aumentava a minha ansiedade, ocultada apenas pelo vidro escuro do carro. O calor da manhã era abrandado pelo forte ar condicionado, mas o meu calor só crescia! E a voz de Amy - And I wake up alone - no rádio me angustiava.
Enquanto me aproximava da rodoviária eu o vi parado me esperando. Dez dias me separavam daquele rosto de sono. Agora eu era ansiedade, angústia e alegria. Abri a porta e um sorriso. Ele entrou, eu entreguei o girassol.

- É roubado?
- Não. Eu comprei!
- As flores roubadas são mais românticas!

Ele sempre me dava rosas roubadas.
Abri a porta de casa e lá estava a mesa do café posta pra nós com capricho e cuidado. Flores a mesa. Bebemos champagne e café. Ele eleogiou o bolo. Disse que tudo estava a minha cara. Seria um elogio? Entendi que sim.
Nos abraçamos forte, nos beijamos com desejo, carinho e tristeza.
Conversamos sobre nós, sobre amenidades, sobre a viagem, sobre o outro. (Mas o outro sou eu!). Ele me mostrou uma música que lhe fazia lembrar de mim. Algo com a palavra febre na letra... E nos devoramos num beijo interminável... Que terminou. Eu no fundo temia suas palavras:

- Eu não posso continuar assim... Agora que ele tem certeza de nós... Não conseguirei mais mentir... Eu prometi tentar... Eu preciso ver se consigo levar esse namoro a distância. E se não der, e se você ainda quiser, podemos começar do zero... Será muito mais honesto para nós dois.
- Eu não acredito que você vá ficar com ele... Nem acredito que você será fiel...
- Eu vou tentar... Mas pode ter certeza que se eu cair em tentação, será com você.

O mais louco disso tudo é que sei que se ele fosse meu namorado, nossa história estaria destinada ao fracasso. Mas, como amantes sem cobranças ela seguia lindamente... Até onde iria, não sei. Mas agora estou no olho do furacão, tentando me abrigar das minhas próprias emoções... Eu gosto dele, eu o desejo e eu ainda não aceitei a perda.
Por volta dos vinte e poucos estudei com um grande ator de teatro, por quem eu nutria muita admiração. Lembro que na época me decepcionou ver que aquele homem aparentemente tão sábio e maduro do alto de seus setenta anos perdia totalmente o controle por causa do seu jovem namorado. Agora eu começo a entende-lo. A idade não o impedia de se entregar as emoções, ainda que parecesse ridículo diante dos outros. Esse ator me dizia:

- Você pensa demais! Você pensa antes de falar!

Era o medo. O medo de ser ridículo. E eu entrei nessa história com medo de ser ridículo. De que adiantou?
O moreno partiu ontem de manhã. Não sei se volta...

"La festa appena cominciata è già finita"



sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

De Cinzas


Expremido no meio de multidões passei o carnaval. É realmente contagiante a alegria carioca! O poder de se colocar um sorriso no rosto, vestir a fantasia e se jogar na multidão. Eu precisava disso! Acho que quando se está ali no meio do povo, cantando marchinhas, vendo os confetes caindo e já meio alto ás 11:00 da manhã, não se pensa no resto. O resto é chato. É sério demais ou eu faço o resto ser sério. Não sei bem...
O resto é um vazio que não se esgota. Apenas disfarço.
Era nosso segundo encontro. Aquele homem alto, elegante, um gentleman, bem posto na vida e na tela "Revolucionary Road". Os créditos sobem e eu devastado. Estava no lugar errado, com o homem errado. Ele não era para mim. Ele era tudo o que eu queria, mas não me inspirava desejo algum. Dá pra entender? E penso no filme: Na idéia de que temos de que somos especiais, de que somos diferentes, melhores que os outros. Balela. Qual o preço que se paga para estar com alguém? O quanto se abre mão? O velho que desliga o aparelho de surdez enquanto a mulher reclama. Então é isso? Não julgo os relacionamentos, nem ninguém. Mas tem que ser assim ou o vazio está nessa busca pelo diferente?
Na semana seguinte, "Shortbus". Era a segunda vez que assistia esse filme e me emocionei como na primeira, quase um ano atrás. Estavam ali as mesmas questões do filme da semana anterior. Era eu vazio na tela, o vazio dos personagens era o meu vazio, a busca por um caminho, uma trilha que fosse. E lembro daquele garoto de vinte e poucos anos com quem tive uma tarde de sexo efervescente e nada mais. Quase um estranho, um rapaz com o qual eu sabia que nunca teria uma possibilidade de futuro, me levando a loucura por algumas horas!Há algo errado nisso?Nessa busca por sexo?... O afeto entra aí também?...

- Eu queria mudar o mundo! Mas, agora quero apenas deixá-lo com alguma dignidade. - Diz a biba dona do Shortbus(boate/clube de sexo) à terapeuta de casais que não consegue gozar.

Ele se foi. Enquanto cruzava a rua disse:
- Me liga!

Eu ainda liguei uma vez... Não nos vimos mais.
E terminei o carnaval com os olhos úmidos. Na tela Sean Penn me emociona na pele de Harvey Milk.

- Eu tenho quarenta anos e não fiz nada de significativo na vida. - Diz algo assim, o personagem ao jovem namorado.

E pensar que esse homem que se tornou um expoente na luta dos direitos dos homossexuais chegou aos quarenta com esse vazio. E aí , penso: Ainda há tempo! Qual o caminho? Milk não o fez, ele e o caminho foram se achando. Ele queria a tal felicidade, essa que tantos de nós procuramos... Um trabalho, um namorado... E acabou se envolvendo em algo muito maior!
O moreno permanece nessa história e agora com mais importância na trama. Os dias que antecederam o carnaval foram um ensaio de um namoro, com direito a dormir abraçado todos os dias, torpedos românticos, cozinhar junto, passeios pelo Rio e muito sexo do bom! Como a muito eu não tinha!Eu me envolvi e sei que não devia ter feito isso, pois não vejo futuro nessa história. Ele não está só comigo, que fique claro! Mas decidi viver o presente e ligar o foda-se para o que vier depois. Mas, o que vem depois do vazio?
No mp3 Fernanda Takai canta:

Cansei de tanto procurar
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder
Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer...

domingo, 18 de janeiro de 2009

Algumas Histórias


Cheguei ao Mafalda antes da meia noite, quem me indicou foi a vendedora tatuada da lojinha do Museu Oscar Niemeyer(o famoso Olho), e tava bem cheio. Fiquei no balcão tomando uma cerveja. Na outra ponta estava aquele rapaz magro e alto, bem estiloso, também só. Troca de olhares, um sorriso, quinze minutos de conversa e dividimos uma mesa. O restaurante faz o estilo "frequentadores gays, mas ninguém se pega". Nós nos pegamos, beijos quentes, porém quase românticos. Dali fomos a Cats, uma boate estilo Le Boy, e ele queria dormir comigo. Eu também queria, mas não naquelas circunstâncias, não naquele dia quente e cansativo...
Cada vez menos, tenho disposição para sexo casual... Tenho preferido apenas os beijos casuais. Se é para não dar em nada, nem num telefonema no dia seguinte, fiquemos apenas com os beijos...
Madona cantava as primeiras músicas naquela noite de chuva no Maracanã e nossos olhares se cruzaram, eu de capa de chuva, ele sem camisa, perguntei:

- Não tem medo de pegar uma gripe?
- Não acreditei que fosse chover...

E quando Madona tascou um beijaço numa dançarina, foi a deixa que precisávamos para fazer o mesmo. Dali em diante beijei muito com Madona fazendo fundo musical pra minha paquera. Ainda trocamos telefones e algumas ligações que não se concretizaram em um segundo encontro...
O paulista que conheci em Búzios também se tornou um telefone no celular... Beijos trocados no Deep, e naquela madrugada enquanto caminhávamos pela praia quase deserta... Tenho preguiça e um certo orgulho talvez, de ficar correndo atrás. Poderiam até terem virado amigos, quem sabe?
Me despedi de 2008 molhando os pés nas águas de Geribá, o rosto molhado por uma lágrima pelos meus mortos(inclusive aqueles que estão vivos!). Eu que não bebo nada, bebi demais, não dei vexame, mas a mexida que dá por dentro é barra! Euforia misturada com solidão não é uma boa combinação.
Minha amiga que vive reclusa num casarão em Búzios me diz:

- Hoje eu optaria por um companheiro à uma paixão...

E eu penso :

- Nem companheiro e nem paixão tenho mais pra optar...

O moreno continua na história e nesse caso não são apenas beijos:

- Você não é pra namorar - Digo eu.
- Por que?
- Porque você é um galinha e eu já cansei de ficar só, quero namorar sério de novo...
- Quer dizer que se você arrumar um namorado, você vai me deixar?
- Sim...
- Não, você vai ficar com ele e comigo - E ri.

E o calor dessa cidade me desanima, assim como me faz ficar em casa numa noite de sábado, em que desisto de vagar a procura de beijos sem telefones. E lembro dos torpedos que trocamos no Natal e no Ano Novo... Eu ainda sinto sua falta.
E fazia calor naquela noite de Curitiba na porta da Cats, seus olhos suplicavam por uma noite juntos e eu parti deixando ele ali. O meu número de celular gravado no seu e a promessa de uma ligação dele no dia seguinte. De concreto apenas a imagem acima. Nossas mãos juntas tiradas com o meu celular.