sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

De Cinzas


Expremido no meio de multidões passei o carnaval. É realmente contagiante a alegria carioca! O poder de se colocar um sorriso no rosto, vestir a fantasia e se jogar na multidão. Eu precisava disso! Acho que quando se está ali no meio do povo, cantando marchinhas, vendo os confetes caindo e já meio alto ás 11:00 da manhã, não se pensa no resto. O resto é chato. É sério demais ou eu faço o resto ser sério. Não sei bem...
O resto é um vazio que não se esgota. Apenas disfarço.
Era nosso segundo encontro. Aquele homem alto, elegante, um gentleman, bem posto na vida e na tela "Revolucionary Road". Os créditos sobem e eu devastado. Estava no lugar errado, com o homem errado. Ele não era para mim. Ele era tudo o que eu queria, mas não me inspirava desejo algum. Dá pra entender? E penso no filme: Na idéia de que temos de que somos especiais, de que somos diferentes, melhores que os outros. Balela. Qual o preço que se paga para estar com alguém? O quanto se abre mão? O velho que desliga o aparelho de surdez enquanto a mulher reclama. Então é isso? Não julgo os relacionamentos, nem ninguém. Mas tem que ser assim ou o vazio está nessa busca pelo diferente?
Na semana seguinte, "Shortbus". Era a segunda vez que assistia esse filme e me emocionei como na primeira, quase um ano atrás. Estavam ali as mesmas questões do filme da semana anterior. Era eu vazio na tela, o vazio dos personagens era o meu vazio, a busca por um caminho, uma trilha que fosse. E lembro daquele garoto de vinte e poucos anos com quem tive uma tarde de sexo efervescente e nada mais. Quase um estranho, um rapaz com o qual eu sabia que nunca teria uma possibilidade de futuro, me levando a loucura por algumas horas!Há algo errado nisso?Nessa busca por sexo?... O afeto entra aí também?...

- Eu queria mudar o mundo! Mas, agora quero apenas deixá-lo com alguma dignidade. - Diz a biba dona do Shortbus(boate/clube de sexo) à terapeuta de casais que não consegue gozar.

Ele se foi. Enquanto cruzava a rua disse:
- Me liga!

Eu ainda liguei uma vez... Não nos vimos mais.
E terminei o carnaval com os olhos úmidos. Na tela Sean Penn me emociona na pele de Harvey Milk.

- Eu tenho quarenta anos e não fiz nada de significativo na vida. - Diz algo assim, o personagem ao jovem namorado.

E pensar que esse homem que se tornou um expoente na luta dos direitos dos homossexuais chegou aos quarenta com esse vazio. E aí , penso: Ainda há tempo! Qual o caminho? Milk não o fez, ele e o caminho foram se achando. Ele queria a tal felicidade, essa que tantos de nós procuramos... Um trabalho, um namorado... E acabou se envolvendo em algo muito maior!
O moreno permanece nessa história e agora com mais importância na trama. Os dias que antecederam o carnaval foram um ensaio de um namoro, com direito a dormir abraçado todos os dias, torpedos românticos, cozinhar junto, passeios pelo Rio e muito sexo do bom! Como a muito eu não tinha!Eu me envolvi e sei que não devia ter feito isso, pois não vejo futuro nessa história. Ele não está só comigo, que fique claro! Mas decidi viver o presente e ligar o foda-se para o que vier depois. Mas, o que vem depois do vazio?
No mp3 Fernanda Takai canta:

Cansei de tanto procurar
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder
Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer...